Eu não sou especialista em ideologia de gênero, nem tampouco em ciências sociais. Minha educação formal e meu trabalho me levaram para áreas distintas: meus interesses iniciais eram das ciências exatas, e acabei indo parar trabalhando na área biomédica. Por isso, neste pequeno texto vai basicamente minha opinião, o modo como compreendo esta questão, mas não uma abordagem erudita, ou mesmo profissional.
Acho estranho ver o têrmo “ideologia de gênero”, pois nunca havia pensado que o gênero pudesse ser objeto de uma disputa política. Minha ingenuidade, claro. Não somente pode, como a discussão ideológica sobre gênero tornou-se central em assuntos variados, sendo foco de debates (e disputas grosseiras) nos palcos mais díspares o possível.
Minha opinião sobre isso já era formada há muito tempo, desde a adolescência, quando eu horrorizava meus colegas “machos” falando que não ligava a mínima para sexo, não me importava com isso e, principalmente, nao queria ser escravo de um estereótipo. Lógico, a resposta que eu mais ouvia dos adolescentes lotados de hormônio naquela época era, “pois eu me importo”. Ou algo do tipo. Mas é isso mesmo, eu sempre achei esse estereótipo de machão que queriam incutir na minha cabeça naquela época (“coma as meninas, porque senão vem outro e come”, era uma frase corrente entre os adoráveis garotos na época) muito mais que um estorvo, uma verdadeira invasão, uma tentativa de me obrigar a viver de uma determinada maneira. E se tem algo com o que eu nunca soube lidar, algo que não consigo suportar, é a tentativa de me controlar, de me tirar a liberdade.
Logo, para mim, a questão de gênero sempre foi muito clara e resolvida na minha cabeça: não me importo com seu gênero, não se importe com o meu. É homossexual? Ótimo. Gosta de ser heterossexual machão? Maravilha. Acha que tem que ser feminina para ser mulher (seja o que isso for)? Perfeito! Acredita que mulheres e homens devem ser iguais em tudo? Lindo, continue assim. MAS NÃO VENHA MEXER COMIGO E COM O QUE EU SINTO!
Hoje, vejo com mais clareza o assunto e, mesmo sem ter um conhecimento formal sobre isso, apoio integralmente a ideologia de gênero. Para mim, gênero nem existe, não da forma simplória como muitos querem. Na forma como concebo a mente humana, não entendo como alguém pode ser ingênuo a ponto de querer seriamente acreditar que exista um gênero na mente. Na verdade, não existir gênero equivale a dizer que existem tantos gêneros quanto pessoas no mundo, pois cada pessoa tem o seu particular. Se o meu se dá com o seu, fenomenal, senão, vamos cada um viver uma vida plena em seu caminho próprio. Vejo essa sanha de tentar mudar o outro como uma limitação muito básica, muito profunda, do ser das pessoas. Apenas quem não tem uma compreensão completa de si mesmo e, ainda por cima, teme muito se conhecer pode realmente se lançar numa cruzada para mudar o comportamento dos outros.
Há mais, porém: nunca acreditei a sério no bem e no mal universais, mas não somente acredito como temo o mal de que o ser humano é capaz. E, na minha visão, muito do que está por trás do preconceito e da tentativa de controlar os outros é o mal da humanidade, pura e simplesmente. Eu prefiro ser bom, e não ter preconceito, e apoiar a ideologia de gênero.